segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Comunidades cobram mudança no INCRA de Santarém, no Oeste do Pará


Em Audiência Pública realizada no dias 26 e 27, órgão recebeu pesadas críticas pela falta de respostas e de ações que demonstrem a intenção de efetivar a regularização fundiária. Diante das reclamações, as comunidades e organizações de assessoria popular reivindicaram a substituição do atual superintendente regional.
Comunidades rurais e tradicionais que há anos reclamam por regularização fundiária e ambiental estiveram frente a frente com órgãos públicos responsáveis, em Audiência Pública realizada nos dias 26 e 27 de agosto, em Santarém, Oeste do Pará. O evento foi realizado pela Promotoria de Justiça Agrária do Ministério Público do Pará, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTR de Santarém, Terra de Direitos e FASE. Mais de 200 pessoas participaram dos debates, entre comunidades de diversos municípios da região e órgãos públicos municipais, estaduais e federais.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA recebeu pesadas críticas das comunidades presentes pela falta de respostas e de ações que demonstrem a intenção de efetivar a regularização fundiária. Representantes do órgão não apresentaram planejamento satisfatório para o volume de demandas e deixaram de responder questionamentos sobre a interdição de dezenas de assentamentos na região. Servidores do Instituto presentes na Audiência também fizerem reclamações acerca de problemas internos, que atrapalham o cumprimento das atribuições.
Diante das reclamações, as comunidades e organizações de assessoria popular reivindicaram a substituição do atual superintendente regional do órgão em Santarém, Luiz Bacelar Guerreiro. Somado a isso, ficou apontada a necessidade de nomeação urgente de um ouvidor agrário regional para Santarém, além da apresentação de um planejamento organizado para o cumprimento das demandas de regularização fundiária.

A ausência injustificada da Secretaria de Estado de Meio Ambiente – SEMA foi duramente questionada pelas lideranças presentes, que elaboraram uma nota de repúdio ao órgão. Há várias denúncias de aprovação do Cadastro Ambiental Rural – CAR para empresas privadas em áreas ocupadas tradicionalmente pela população ribeirinha e povos indígenas. O assessor jurídico da Terra de Direitos em Santarém, Pedro Martins, aponta que a aprovação desses cadastros possibilita a liberação de Planos de Manejo para retirada de madeira de áreas de ocupação tradicional, trazendo danos ambientais e conflitos às comunidades.

O Instituto de Terras do Pará – ITERPA também recebeu críticas, principalmente por não ter consolidado dois assentamentos na região do Juruti – os Projetos Estaduais de Assentamento Agroextrativista – PEAEX Curumucuri e Mamuru. Ambos foram criados em 2009, mas ainda aguardam resposta do Instituto sobre a área total e dos limites de utilização dessa área destinada às famílias de agricultores da região.
Pela localização das comunidades em áreas de várzea, à beira de rios federais – áreas da União – os participantes da Audiência propuseram a criação de um escritório ou base de representação da Secretaria de Patrimônio da União em Santarém. Atualmente, as demandas do Oeste do Pará ligadas à Secretaria são atendidas somente em Belém ou Brasília.
Apesar da numerosa participação de órgãos públicos, muitas perguntas e propostas colocadas pelas lideranças comunitárias não foram respondidas. Como encaminhamento da Audiência, os órgãos foram orientados a responder as questões pendentes em até 10 dias à Promotoria de Justiça Agrária.
Na avaliação de Pedro Martins, que assessora comunidades em processos de regularização na região, a Audiência confirmou-se como uma ótima oportunidade de fazer pressão conjunta, representada por um coletivo maior de lideranças sindicais, quilombolas e indígenas. “Daqui para frente, temos o desafio de continuar pressionando e sugerindo soluções”.
Para o assessor, as audiências públicas são meios democráticos, desde que haja real participação da população interessada, em diálogo direto com órgãos competentes preparados para dar respostas aos seus questionamentos e reivindicações.
Comunidades denunciam ameaças e ações violentas por parte de fazendeiros e madeireiros na região do Tapajós, no Pará

Descumprimento da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT foi duramente criticado por representante dos Munduruku e da comunidade quilombola do Maicá, localizada em Santarém, que podem ser afetados por grandes obras portuárias e hidrelétricas. 

As denúncias de violência sofrida por lideranças comunitárias, ameaçadas por fazendeiros e madeireiros, foram a tônica do primeiro dia da Audiência Pública sobre a regularização fundiária e ambiental no Oeste do Pará, realizada nos dias 26 e 27 de agosto, em Santarém. Este é um dos principais problemas enfrentados pelas comunidades rurais, agravado pela insegurança do território, já que a regularização fundiária está estagnada na região.

O cacique Dadá Borari, representante do povo da Terra Indígena (TI) Maró, denunciou o intenso avanço da monocultura de soja às margens das terras. Além disso, alertou para a liberação de projeto de manejo de empresas dentro da área, com base no Cadastro Ambiental Rural – CAR, concedido pela Secretaria Estadual de Meio ambiente – SEMA, órgão que não compareceu à Audiência.

Por conta do enfrentamento feito pelo povo indígena à exploração ilegal de madeira, Dadá Borari passou a ser ameaçado de morte e atualmente recebe escolta policial – política prevista no Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH). Apesar da regularidade na proteção policial, Dadá aponta falhas na segurança por não considerar a proteção da família.
A ampla participação de representantes de órgãos responsáveis pela regularização fundiária e ambiental possibilitou que as comunidades reclamassem diretamente da inoperância e a lentidão dos governos federal e estadual. A espera pela titulação de territórios tradicionais quilombolas, por exemplo, chega a durar uma década.

Ione Nakamura, promotora de justiça agrária do Ministério Público Estadual do Pará, afirma que a apresentação das denúncias e demandas das diversas comunidades servirá para a elaboração de um levantamento das prioridades e definição da melhor estratégia do órgão, para atuação em parceria com o Ministério Público Federal e órgãos fundiários.
Para a promotora, a Audiência Pública atende o objetivo de divulgar as demandas da região. “Nós tivemos a oportunidade de ouvir várias lideranças aqui da região, relatando problemas de projetos de assentamento interditados, conflitos com madeiras, com a mineração, com o processo do agronegócio da soja na região, com os grandes projetos, como hidrelétricas, portos, projetos do governo federal aqui na região”.
A Audiência é promovida pelo Ministério Público Estadual, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTR de Santarém, Terra de Direitos e FASE.
Consulta prévia
O descumprindo da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT foi duramente criticado por representante dos Munduruku e da comunidade quilombola do Maicá, localizada em Santarém, que podem ser afetados por grandes obras portuárias e hidrelétricas. A Convenção obriga que os governos estadual e federal realizem consultas prévias e leve em consideração a opinião dos povos afetados.
Quadro de violência no campo
De acordo com o Relatório de Conflitos no Campo da Comissão Pastoral da Terra – CPT de 2013, o Pará é vice-líder do ranking de assassinatos em situações de conflitos no campo em 2013, com seis mortes, ficando atrás apenas de Rondônia, com oito assassinatos no mesmo período; 46 defensores de direitos humanos e lideranças comunitárias vivem sob ameaça no estado.
Fonte e Fotografias: Terra de Direitos
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