sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Servidores de instituições federais devem entrar em greve em março

Sindicato da classe se reúne este fim de semana, em Brasília, para decidir o dia exato em que a paralisação vai começar
Entidades de UFF e UFRJ aprovaram indicativo de greve. Serviço de restaurantes, limpeza e atendimento em secretarias pode ser afetado
Professores se reunirão em congresso no Maranhão para discutir sobre condições precárias de trabalho

Por Leonardo Vieira*

O ano letivo para milhares de alunos de universidades e institutos federais começa com luz amarela acesa. Cerca de 180 mil servidores e técnicos administrativos dessas instituições podem cruzar os braços em março deste ano. A categoria alega que, desde 2012, quando se juntou aos professores numa greve nacional que durou meses, os reajustes salariais obtidos após a paralisação não teriam servido nem para repor a inflação.

Neste fim de semana, 160 delegados da Federação dos Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra) vão se reunir para decidir o dia exato em que a greve começará. De acordo com o coordenador-geral da Fasubra, Paulo Henrique dos Santos, a grande maioria dos sindicatos das universidades é favorável que a paralisação comece na segunda quinzena de março. Associações de servidores como as da UFRJ e UFF já aprovaram indicativo de greve no mês.

- Quando o governo estipulou no fim da greve de 2012 que teríamos reajustes em três parcelas anuais de 5%, nós argumentamos que isso não serviria nem para cobrir a inflação. Deu no quê deu: de 2013 a 2015, teremos aumento de 15%, e uma inflação com mais de 20% - argumenta o coordenador-geral da Fasubra.

Com a paralisação do setor, serviços como limpeza dos campi, bandejões e secretarias acadêmicas podem ser afetados. Com relação às aulas, o futuro também é incerto. Do dia 10 a 15 de fevereiro, professores organizados em torno do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) também vão se reunir no 33º Congresso Geral do Andes-SN, em São Luis (MA).

A presidente do Andes, Marinalva Oliveira, explica que o sindicato apenas "suspendeu" a greve em setembro 2012, após 135 dias de paralisação, mas que o movimento ainda continua. Em agosto daquele ano, o governo federal tinha fechado acordo com outro sindicato representante da categoria, o Proifes, prevendo reajustes salariais para os docentes de 25% a 40% até 2015.

Logo após o acerto, o aumento foi incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2013, não dando margem para outras negociações. Por isso, segundo Marinalva, o Andes decidiu apenas suspender a greve.

Mas se naquele ano o motivo principal para a paralisação era a questão salarial, desta vez o Andes quer exigir do governo federal medidas contra a "precarização do trabalho" dos professores. A categoria aproveitará o encontro para definir o "plano nacional de lutas", com pautas que vão de maior autonomia universitária até a contratação de novos professores.

Além disso, professores pretendem abordar a falta de estrutura para ensino em algumas instituições e denunciar casos como o do campus da UFF em Rio das Ostras, na Região dos Lagos, onde alunos têm aulas em contêineres improvisados.

Segundo Marinalva, a "expansão desordenada" do Reuni provocou um aumento desproporcinal do número de alunos em relação ao ingresso de novos docentes por concurso público, fazendo com que muitos tivessem uma jornada de trabalho incompatível com os salários. Além disso, ela critica que a carreira desenhada pelo MEC não desvincula ensino, pesquisa e extensão, tarefas que acabam se acumulando para o professor. Mesmo sem antecipar se o Andes confirmará a volta da greve no encontro, Marinalva afirmou:

- As condições estão piores, os professores estão indignados, e isso pode conduzir a categoria a dar alguma resposta para o governo, já que ele não nos dá uma resposta.

Acusada pelo Andes de ter fechado acordo com o governo federal em 2012 sem representar a classe docente, o Proifes se defende. Para o presidente do sindicato, Eduardo Rolim, não há motivos para greve em um futuro próximo, já que o governo federal está cumprindo em dia com os compromissos de reajustes salariais. Ele também reconhece problemas com o Reuni, mas prefere observar o programa de um jeito mais amplo:

- Não acho que haja hoje uma motivação para greve como houve em 2012. O quadro é diferente porque estamos em plena implementação dos reajustes salariais. E não gosto de usar a palavra 'precarização'. Nunca no Brasil tivemos uma expansão universitária como essa. Só ano passado foram criadas mais quatro universidades federais. Em 2006, tínhamos 57 mil professores. Hoje temos na ordem de 70 mil, um incremento de 23 mil novos docentes. E todos tiveram esses reajustes.


Fonte: O Globo
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