quarta-feira, 27 de março de 2013

"Nós, povo Munduruku, repudiamos essa maneira ditadora da presidenta que governa o País."


Tropas da Companhia de Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança Pública  estão posicionadas em Itaituba preparadas para a execução da Operação Tapajós. Conforme informações dos indígenas, os soldados e agentes deverão desembarcar em aldeia Munduruku nesta quinta-feira, 28, para garantir realização dos estudos de impacto do Complexo Hidrelétrico do Tapajós, no Pará.
A denúncia foi feita pela Associação Indígena Pusuru, em carta divulgada nesta quarta-feira, 27. Os indígenas relatam que foram informados, em reunião com a Fundação Nacional do Índio (Funai), em Itaituba, que um grupo de 60 homens da Força Nacional irá para a aldeia Sawre Muybu, também em Itaituba.
No documento, os Munduruku denunciam o governo, que  ”vem mandando seu exército assassino para nos ameaçar e invadir nossas aldeias” e temem um novo massacre, “porque há 4 meses atrás numa operação chamada Eldorado foi morto um parente e vários ficaram feridos inclusive crianças, jovens e idosos”.
Cerca de 250 homens fortemente armados estão posicionados em Itaituba para a realização da Operação Tapajós. Agentes da Polícia Federal, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e Força Aérea foi deslocado para as proximidades da Terra Indígena Munduruku com o objetivo de realizar – à força – o estudo integrado de impactos ambientais para a construção do chamado Complexo Hidrelétrico do Tapajós.
O Ministério Público Federal pediu à Justiça Federal em Santarém que impedisse a realização de uma operação policial do governo federal, porque o licenciamento ambiental da usina está suspenso pela mesma Justiça por falta das consultas prévias aos índios. Porém, o juiz Federal indeferiu o pedido. Valendo-se do feriado prolongado da Semana Santa, tradicionalmente maior para o Poder Judiciário, o governo federal desenvolve a operação de guerra.
Leia carta na íntegra:
CARTA DO POVO MUNDURUKU
Nós! Caciques, lideranças e guerreiros do povo Munduruku sempre lutamos e continuaremos lutando em defesa de nossas florestas, nossos rios, e de nosso território pois é de nossa mãe natureza que tiramos tudo que precisamos para sobreviver, mas o governo que devia nos proteger, vem mandando seu exército assassino para nos ameaçar e invadir nossas aldeias, ultimamente nosso povo vem sendo desrespeitado, vem sendo ameaçado por um  governo  ditador que vem ameaçando e  matando nosso povo, usando suas forças armadas como se os povos indígenas fossem terroristas ou bandidos.
Nós, povo Munduruku, repudiamos essa maneira ditadora da presidenta que governa o País. Não aceitamos que policias entrem em nossas terras sem a nossa autorização para qualquer tipo de operação. É um povo especial! Um povo que já existia muito antes deles chegarem aqui, nessa terra onde chamam de Brasil. Brasil é a nossa terra! Somos nós os verdadeiros brasileiros.
Essa semana o governo brasileiro mandou 250 policiais para garantir a força os estudos das hidrelétricas nas nossas terras.
Hoje pela manhã foi decidido na sede da FUNAI em ITAITUBA que 60 homens da Força Nacional irão para a Aldeia sawre muybu, cumprir o decreto expedido pela Presidenta da Republica do dia 12 de março; é uma Aldeia com 132 Indígenas. Estamos muitos preocupados porque há 4 meses atrás numa operação chamada Eldorado foi morto um parente e vários ficaram feridos inclusive crianças, jovens e idosos, na Aldeia Teles Pires.
O governo marcou uma reunião para dia 10 de abril para falar dessa operação. Mas uma vez esse governo está quebrando acordo com o povo Munduruku, por isso não queremos mais reunir com esse governo até que ele pare com essa ação contra a decisão do nosso povo. Pedimos a ajuda do Ministério Publico Federal, para nos ajudar a resolver esses problemas sem que haja mais mortes. Pois não ficaremos de braços cruzados vendo tamanho desrespeito com nosso povo e nosso território.
Povo Munduruku
Jacareacanga, 27 de março de 2013
Fonte: Cimi


Versão em inglês*
We! Caciques, leaders and warriors of the Munduruku people have always struggled and will continue to struggle in defense of our forests, our rivers and our territories, because everything that we need to survive we get from Mother Nature. But the government, who should protect us, is sending its army of assassins to threaten us and to invade our villages, recently our people have been disrespected, threatened by a dictatorial government who has been threatening and killing our people, using armed force against us as if we indigenous people were terrorists or bandits.

We the Munduruku people repudiate the dictatorial manner of this country’s president. We do not accept that police enter, unauthorized, onto our lands for whatever operation they want to carry out. We are a special people! a people who existed long before they arrived in this land that they call Brazil. Brazil is our land! We are the true Brazilians.

This week the Brazilian government sent 250 police to enforce the implementation of studies to build hydroelectric dams on our lands.

This morning at the FUNAI headquarters in ITAITUBA, it was decided that 60 men from the National Force would go to the Sawre Muybu indigenous village to comply with the decree expedited by the President of the Republic on March 12; Sawre Muybu is a village of 132 indigenous people. We are very concerned because four months ago during another one of their operations called Eldorado one of our relatives was killed and many others were injured, including children, young people, and elderly people in the village of Teles Piras. 

The government scheduled a meeting for April 10th to speak about this operation. Once again, the government is breaking its agreement with the Munduruku people, so we do not want to meet with this government until it stops this action against the will of our people. We are asking the Federal Public Ministry to help us resolve these problems without further deaths. Because we will not remain with our arms crossed watching disrespect of this magnitude of our people and our territory. 

Jacareacanga, 27 de março de 2013
*Tradução feita pela leitora Brenda
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

brenda disse...


caso uma tradução para inglês seria útil..

We! Caciques, leaders and warriors of the Munduruku people have always struggled and will continue to struggle in defense of our forests, our rivers and our territories, because everything that we need to survive we get from Mother Nature. But the government, who should protect us, is sending its army of assassins to threaten us and to invade our villages, recently our people have been disrespected, threatened by a dictatorial government who has been threatening and killing our people, using armed force against us as if we indigenous people were terrorists or bandits.

We the Munduruku people repudiate the dictatorial manner of this country’s president. We do not accept that police enter, unauthorized, onto our lands for whatever operation they want to carry out. We are a special people! a people who existed long before they arrived in this land that they call Brazil. Brazil is our land! We are the true Brazilians.

This week the Brazilian government sent 250 police to enforce the implementation of studies to build hydroelectric dams on our lands.

This morning at the FUNAI headquarters in ITAITUBA, it was decided that 60 men from the National Force would go to the Sawre Muybu indigenous village to comply with the decree expedited by the President of the Republic on March 12; Sawre Muybu is a village of 132 indigenous people. We are very concerned because four months ago during another one of their operations called Eldorado one of our relatives was killed and many others were injured, including children, young people, and elderly people in the village of Teles Piras.

The government scheduled a meeting for April 10th to speak about this operation. Once again, the government is breaking its agreement with the Munduruku people, so we do not want to meet with this government until it stops this action against the will of our people. We are asking the Federal Public Ministry to help us resolve these problems without further deaths. Because we will not remain with our arms crossed watching disrespect of this magnitude of our people and our territory.

Jacareacanga, 27 de março de 2013

Cândido Cunha disse...

Brenda, essa é uma ótima iniciativa. Já coloquei a versão traduzida no corpo da postagem. Obrigado pela força.