terça-feira, 26 de março de 2013

Em Castelo dos Sonhos, uma avenida e muita violência

O roteiro de quem cruza pela BR-163 a partir do Pará não está restrito aos perigos próprios da rodovia. Grilagem de terras, garimpos clandestinos e extração ilegal de madeira ainda contam a história de boa parte dos municípios do sul do Estado, uma região que, 40 anos atrás, foi promessa de fortuna e vida boa para quem se dispusesse a desbravá-la e, claro, derrubar suas árvores. As fortunas vieram, mas para poucos.

Do eldorado prometido pelo governo militar, sobraram vilarejos abandonados à própria sorte, como o de Castelo dos Sonhos, distrito que pertence ao município de Altamira (PA). Castelo, que ostenta uma paisagem de faroeste em sua única avenida, é o distrito brasileiro mais distante de sua sede. Está a 950 km de Altamira. Cercado de beleza natural, o vilarejo transformou-se em terra de pistoleiros, onde fazendeiros são constantemente acusados de encomendar a morte de pessoas por mixarias como R$ 100, R$ 200.

Com 15 mil habitantes, Castelo dos Sonhos ainda não conseguiu sua emancipação. Dada a sua distância de Altamira, está muito mais ligado a Novo Progresso (PA) e Guarantã do Norte (MT).

“Castelo mudou. Não é mais violento como era. A coisa só complica mesmo se você procurar as bocas de inferno. Lá, ninguém respeita ninguém e sua vida não vale um tostão”, diz “seu” Dirceu, dono da Pousada Paraíso Verde. Ele se refere a um punhado de botecos da avenida, onde mulheres ficam sentadas ao lado de aparelhos de som, à espera de interessados.

O povo de Castelo dos Sonhos anda indignado com a violência da cidade, diz Dirceu. No mês passado, a população decidiu fazer justiça, depois de ser acordada por um homem ensandecido. Ele chegou em sua casa e começou a matar seus animais. A esposa, apavorada, fugiu e deixou o filho dormindo. O homem matou seu próprio filho. Foi preso.

Revoltado, um grupo de pessoas foi até a cadeia e pediu que soltassem o assassino, para que fosse linchado. O delegado resistiu. A população, fora de controle, começou a quebrar as paredes do presídio. O homem foi encontrado. “Ele foi levado para fora. Foi surrado e esquartejado. Depois, atearam fogo nos seus pedaços”, diz Dirceu. “Aqui você tem que ficar na sua casa, sossegado. Não vai sair por aí, porque senão arruma confusão. Castelo dos Sonhos é um lugar muito bom para se viver.”


Fonte: Valor Econômico parte da matéria “Lama da BR-163 é alternativa ao caos de Santos”
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