domingo, 31 de outubro de 2010

A oposição de esquerda e o voto crítico em Dilma


Por Duarte Pereira*

Já é possível constatar o estrago produzido na oposição de esquerda pela recomendação do "voto crítico em Dilma" no segundo turno – apesar dos esforços contrários do PSTU e de Plínio de Arruda Sampaio, candidato a presidente pelo PSOL no primeiro turno, que têm insistido no voto nulo.

Dividida e imobilizada, a oposição de esquerda perdeu a iniciativa política, dispersou apoios que havia aglutinado, interrompeu a luta ideológica contra o consenso capitalista e social-liberal e nem mesmo se contrapôs ao enraizamento na consciência popular de mitos e valores burgueses difundidos pela campanha de Dilma, como o "país de classe média" ou o "agora posso comprar um carro".

A recomendação do "voto crítico em Dilma" facilitou a passagem de lideranças e entidades populares de uma postura de oposição ao governo Lula ao apoio anunciado a um eventual governo Dilma – embora Dilma insista com toda clareza que vai manter e aprofundar as orientações do governo Lula, ou seja, o projeto capitalista-monopolista, as políticas sociais-liberais e as alianças com setores do grande capital e da direita conservadora.

O bloco PT-PCdoB, influente na frente liderada por Lula e Dilma, ressuscitou uma rígida concepção de que é preciso aprofundar a "etapa capitalista", supostamente nacional, da formação social brasileira, antes de se poder cogitar a luta por uma eventual "etapa socialista". Projeto nacional tornou-se sinônimo de projeto capitalista-estatal. De Lula regrediu-se a Getúlio, é claro que na forma de uma farsa, a única viável em condições históricas inteiramente distintas das que caracterizavam o mundo e o Brasil dos anos 1930 aos anos 1950.

Concluída a eleição presidencial, vença Dilma, o que é mais provável, ou vença Serra, o que seria surpreendente, a falta de uma atuação autônoma e unificada da oposição de esquerda no segundo turno tornará mais difíceis, e não mais fáceis, como alegam alguns, a retomada da mobilização independente dos trabalhadores e da juventude estudantil e a reorganização da resistência democrática e socialista ao desenvolvimento capitalista e monopolista e às políticas sociais-liberais em andamento no Brasil há 16 anos.

*Duarte Pereira é jornalista.Publicado originalmente no sítio da Correio da Cidadania.
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