sexta-feira, 18 de junho de 2010

Zé Maria do Tomé: sua luta vive, sua voz se multiplica e clama por justiça!

Aos dois meses da morte de José Maria Filho, o Zé Maria do Tomé -como era carinhosamente conhecido por todos, além de ser reconhecido como um dos mais valorosos líderes comunitários deste município - vimos reafirmar junto a toda a população jaguaribana a presença viva de seu maior legado: a luta contra a depredação ambiental, a exploração e o uso abusivo de agrotóxicos, imposto pelas empresas do Agronegócio aos trabalhadores e trabalhadoras deste município.

Na verdade, a violência cometida contra os lutadores do campo, como o companheiro Zé Maria não é um caso isolado, mas, é parte de um projeto que tem sua origem no Brasil na ditadura militar, com a criação do Estatuto da Terra e se fortalece na década de 70 com a “modernização do campo”, que trouxe como conseqüências imediatas o processo de profunda precarização das relações de trabalho, fazendo com que a pobreza migrasse do campo para a cidade, fortalecendo o latifúndio e levando ao inchaço das grandes cidades.

Paralelo a isso, cresceu a violência dos grandes proprietários de terra, tendo sua impunidade assegurada por poderosos grupos e governos como o de FHC e Lula, que não apenas fizeram vista grossa para os crimes no campo, como também priorizaram (e continua priorizando) o agronegócio em detrimento dos pequenos produtores, abondonados á própria sorte, ou reféns de dívidas eternas de empréstimos em bancos com juros altíssimos, enquanto os empresários recebem os mais altos incentivos fiscais e isenções de água, luz...e tudo que for necessário para gerar subempregos em nossa região sob o pretexto de um desenvolvimento, cujo preço tem sido a vida de pessoas.

O brutal assassinato do companheiro Zé Maria em 21 de abril de 2010, reacendeu com força a discussão e a denúncia das graves sequelas sociais e ambientais causadas pelas empresas do Agronegócio, que culminou numa histórica audiência da Câmara Municipal de Limoeiro, dia 12 de maio, quando o auditório da FAFIDAM já não tinha lugar para acomodar o número de pessoas e organizações sociais e representantes de órgãos do governo e das próprias empresas que construíram um caloroso debate com 6 horas de duração, tendo como eixo a discussão do não sancionamento pelo prefeitura de Limoeiro da emenda do vereador Heraldo Holanda à lei municipal sobre agrotóxicos, que proibe a pulverização aérea, já aprovada por aquela casa em período anterior.

A referida audiência somente reafirmou de forma categórica o que a realidade já nos mostra a todo momento e, somente os árduos defensores e beneficiários do agronegócio, sob a alegativa de proporcionar "emprego e desenvolvimento” não querem admitir: a de que existe uma situação ecologicamente insustentável e humanamente perversa gerada por este modelo de produção que, além de fazer uso abusivo de venenos, vem se utilizando dessa que é uma das formas mais expostas de aplicação do veneno: a pulverização aérea.

Porém, a despeito dos alarmantes e científicos dados apresentados pela Dra. Raquel Rigotto, coordenadora do Núcleo TRAMAS da UFC, a partir de estudos criteriosos e do resultado positivo de amostras coletadas durante os dois anos de pesquisas na região da Chapada, aliadas a declarações contundentes de representantes da própria justiça e de órgãos governamentais acerca da falta de controle básico em torno da política dos agrotóxicos, os vereadores de Limoeiro, em sessão ordinária do dia 20 de maio, vergonhosamente desaprovaram a lei por eles próprios criada, por maioria de votos, garantindo assim, a continuidade da malfadada pulverização aérea sobre a cabeça da população, cuja saúde já parece bastante comprometida, inclusive, com estudos associando esta problemática à proliferação de casos de câncer na região.

E diante disso, surgem algumas perguntas que não querem calar: A quem interessa a desaprovação dessa lei que proíbe a pulverização aérea, visando unicamente preservar um pouco mais a população dos riscos de contaminação por agrotóxicos? O que teria levado os vereadores de Limoeiro a votarem contra uma lei criada por iniciativa da própria Câmara? Com essa atitude, estes legisladores demonstram claramente que estão de que lado, afinal? Do lado da população que a elegeu ou do lado dos interesses dos grandes empresários e do grande capital que sustenta o Agronegócio em nossa região? O que pode explicar tremenda incoerência? O que justifica perder a chance de dar um exemplo nacional, criando uma lei municipal que garante proteger o nosso ecossistema e a população que nele vive?

Indignados com tal situação, conclamamos todos e todas, movimentos sociais, organizações e pessoas a se mobilizarem para exigir que seja dada uma resposta política e jurídica a todas essas questões levantadas e que dê conta desse conjunto de fatos aberrantes que têm sido parte da nossa realidade nos últimos anos. E aí vai uma última reflexão: Será que vale a pena o preço que estamos pagando por este suposto desenvolvimento?

Queremos pois, reafirmar que a morte de Zé Maria não foi em vão e que, mesmo que se passem dias, meses, anos, sua luta será levada adiante por aqueles que, como ele, acreditam na vida acima do lucro. A luta continua!

- POR UM NOVO MODELO AGRÍCOLA : PELO FIM DA MONOCULTURA PARA EXPORTAÇÃO ;
- ABAIXO OS AGROTÓXICOS E PELA MANUTENÇÃO DA LEI ZÉ MARIA DO TOMÉ
- EM DEFESA DA ÁGUA: ÁGUA É VIDA E NÃO MERCADORIA!
- PELA DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DO INQUÉRITO DO ASSASSINATO DE ZÉ MARIA DO TOMÉ; QUE OS CULPADOS SEJAM PUNIDOS!
ZÉ MARIA: PRESENTE, PRESENTE, PRESENTE!


Assinam: MOVIMENTO ESTUDANTIL DA FAFIDAM/ANEL, CONLUTAS VALE DO JAGUARIBE, SINTSEM, SINTSEMQ
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