sexta-feira, 24 de julho de 2009

Quem avisa amigo é!

Por Edilberto Sena*

Quem avisa antecipado amigo é. Portanto não podem as populações banhadas pelo belo rio Tapajós dormir tranqüilas, ou cruzar os braços pensando que este rio é tão grande e tão rico e nada o destruirá. O instinto perverso do governo federal quer mesmo destruir a vida do rio a as vidas dos habitantes, seus beneficiários, em nome de um tal PAC, plano de aceleração do crescimento.

A obstinação temerária do governo é construir 5 ou 7 mega hidrelétricas na bacia do Tapajós. Já se alertou várias vezes sobre isso, mas agora os sinais são mais preocupantes.

O caso é o seguinte: a contínua pressão do movimento popular e da Igreja do Xingu contra a usina de Belo Monte, tem surtido efeito. Ontem uma comissão liderada pelo bispo do Xingu e outras lideranças e peritos em questões hídricas tiveram um diálogo com o presidente Luiz Inácio. Ele deu a entender que ficou impressionado, (ou será que pressionado?) com os dados e os argumentos dos presentes e teria dito que não irá enfiar goela abaixo uma usina, sem consultar as comunidades atingidas. Disse, em outras palavras, que cancelará a construção da hidrelétrica de Belo Monte se ficar convencido dos argumentos dos que rejeitam a obra.

Não se sabe ao certo, se tal afirmação do presidente é verdadeira, ou só para o momento do encontro com a equipe liderada pelo bispo. Mas se for sincera e ele tiver pulso para dar a última palavra, mesmo contra os argumentos da Eletronorte e das empreiteiras, isso será mais preocupante para os habitantes da bacia do rio Tapajós.

A Eletronorte, que já iniciou os estudos e busca de licenciamento ambiental certamente irá acelerar o início das obras em São Luiz do Tapajós, antes que a sociedade civil do baixo Amazonas se dê conta, que se não é possível no Xingu também não será possível no Tapajós. Até o momento poucas pessoas e grupos estão inquietos com a desgraça que vem vindo.


Uma parte da sociedade ainda se ilude de que tudo isso virá para o desenvolvimento da região. A Eletronorte se aproveita desta calmaria e faz propaganda enganosa de que as usinas de São Luiz e demais vizinhas serão totalmente inofensivas, não haverá danos ambientais e menos ainda sociais. Não fala da grande inundação de florestas e comunidades em seus 730 quilômetros quadrados de barragem, acima de São Luiz. Não fala que ao longo das cinco primeiras usinas haverá um alagamento de 2.300 quilômetros quadrados de inundações de florestas, invasão de terras indígenas e expulsão de mais de mil famílias que vivem à beira do rio.

Esta é mais uma preocupação, caso o governo largue de mão Belo Monte, certamente que concentrará no Tapajós. A previsão atual da Eletronorte é iniciar o EIA RIMA ainda neste ano de 2009, para iniciar as obras em 2010. A grande questão para as populações do Baixo Amazonas e não apenas para Itaituba e alto Tapajós, é: não há nada a fazer? O colonialismo vai continuar? Onde está a dignidade deste povo? Se os grupos conscientes do Xingu estão conseguindo barrar as pretensões das empreiteiras e das grandes empresas mineradoras interessadas nas hidrelétricas, por que as populações do baixo Amazonas não defendem seus interesses também?


* Editorial de 23.07.2009 na Rádio Rural AM de Santarém.
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